28.12.05

Prefiro que não digas nada. Prefiro que fiques assim. A olhar para mim. Prefiro este beijo na boca do que palavras da boca para fora. Quero que me olhes nos olhos. Não precisas de dizer o que quer que seja. Esse olhar diz-me tudo o que quero saber. Quero que me abraces com os dois braços (sabes como gosto de abraços). Prefiro e quero que nada mude neste momento.

Quero recordar-te assim.

23.12.05

Tenho os pés colados ao chão.
Quantas vezes me recriminaste por não sonhar?

Pois eu não sou sonhador, não.

16.12.05

Solidão

Sinto-me sozinho nesta sala vazia. A televisão ligada. Um livro de História aberto, sobre os joelhos. Um programa sobre vida selvagem. Lá fora o sol não brilha. A sala está escura. E vazia. Um crocodilo nada num pântano. Sinto-me sozinho. A chuva bate no vidro. A sala está escura. Sono. Dormir. Acordar. Acordar? O predador agarrou a sua presa. A escuridão está sobre mim. Água que se movimenta lentamente. Dentes aguçados e escamas dentro da água. Sala escura, de luz apagada. Livro aberto. Livro fechado. Televisão ligada. Televisão desligada. Chuva do lado de fora. Sala escura. E vazia.

Escuridão.

Escuridão

Olhos fechados.
Não querem abrir.
Apenas vejo escuridão.
Valerá a pena abri-los?
Que luz os fará abrir?
Escuridão.

10.12.05

O que é?

Não sei o que é.

É este acordar todas as noites a chorar. É este chorar sem lágrimas. É este chorar sem lágrimas que é ainda mais doloroso do que chorar com lágrimas. É esta ferida que não sara.

Não sei o que é.

É este constante tropeçar. É este constante cair no chão. É esta ferida que abre sempre que caio no chão. É este tropeçar e cair. É este cair e não me levantar. É esta ferida que não sara.

O que é?
Sou este que parte. Sou este que não quer regressar. Sou este que acaba sempre por regressar. Sou este que ruma sem rumo pelo mar da desilusão e que anda perdido em busca do que não consegue encontrar. Sou este que regressa. Sou este que não quer regressar. Sou este que acaba sempre por partir.

5.12.05

brinco com as palavras nesta folha de papel e com estas palavras mascaro tudo o que sinto a linguagem escrita não é a linguagem falada eu não falo como escrevo ou se calhar não escrevo como falo a linguagem escrita é já uma adulteração da linguagem falada assim como a linguagem falada é uma adulteração da linguagem pensada eu não escrevo o que digo e não digo o que penso as palavras escritas são palavras mentirosas porque não significam no papel o que significam em mim e no ent[ret]anto cá vou eu brincando nesta folha de papel com as palavras meras máscaras dos pensamentos

30.11.05

Este vazio

O que procuro?
Como posso procurar aquilo que não sei que procuro?
Será possível sentir falta daquilo que nunca se teve?
Será possível sentir falta do que não se conhece?
Então, porque será que sinto a falta disto?
Do quê?
Disto.
Do quê?
Disto?
Do quê?
Não sei.

28.11.05

O ponteiro do relógio não pára. Porque é que o ponteiro do relógio não pára? Pára! Porque é que o tempo não pára? Tudo pára. O tempo não. Olho para o ponteiro do relógio. E ele não pára. Queria fazer parar o tempo. Tanto que acontece à medida que o ponteiro do relógio anda. Porém, eu limito-me a olhar para o ponteiro do relógio. Eu limito-me a constatar que o tempo não pára. E limito-me a não fazer mais nada. E o ponteiro do relógio não pára. O tempo não pára.

11.11.05

não fujo do fingimento
(fingir é fugir)
não fujo do fingimento
(fugir é fingir)

4.11.05

Atira-me essa pedra.
Não me importo.
Apedrejado muitas vezes já eu fui.

Cada pedra dói cada vez menos.
Por isso não me importo.
Atira-me essa pedra.

31.10.05

Seria mais fácil esquecer-te.
Se te esquecesse talvez não me sentiria triste. Se te esquecesse talvez a alegria que já fui voltasse. Se te esquecesse talvez pudesse sorrir outra vez. Se te esquecesse...
Mas esquecer-te seria esquecer-me de mim. Do que fui e do que sou. E se fui alegria e se alguma vez sorri, não foi senão por causa de ti. Por isso não te quero esquecer. E enquanto não te esquecer, tu estarás aqui.
Não te foste embora.
Não te foste embora porque ainda estás comigo.

Sempre e para sempre.

30.10.05

ernãoédoernãoévivernãoédoernãoévivernãoédoernãoévivernãoédo
ernãoévivernãoédoernãoévivernãoédoernãoévivernãoédoernãoéviv
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2.10.05

Se eu pudesse...

Se eu pudesse sorrir.
Se eu pudesse fazer.
Se eu pudesse estar.
Se eu pudesse dormir.
Se eu pudesse encontrar.
Se eu pudesse ter.
Se eu pudesse partir.
Se eu pudesse esquecer.
Se eu pudesse ser.
Se eu pudesse...

26.9.05

Corro sem saber para onde.
Estou cansado, mas continuo a correr.

Estou cansado de correr e estou cansado de estar cansado.
Não gosto de me sentir cansado.
Não gosto de correr.
Mas não deixo de correr.

Para onde?

Para sítio nenhum.

Mas não deixo de correr.

Desespero

Penso naquilo que gostaria de não pensar.
Não gosto de pensar no que penso.

Sinto isto que não gosto de sentir.
Não gosto de sentir isto que sinto.

Sinto estas pregas na alma (ah! como te compreendo Álvaro).
Alma? Mas qual alma? E, no entanto, como te compreendo Álvaro.
Com alma ou sem ela, mas sempre com estas pregas.
Só tu mesmo me compreendes.
Nem eu me compreendo, porque não gosto de pensar no que penso e não gosto de sentir o que sinto.
Mas mesmo assim continuo a pensá-lo e mesmo assim continuo a senti-lo.

24.9.05

10.9.05

Sinto-me numa guerra

Onde todos os dias me matam...

Onde todos os dias morro.

1.8.05

23.7.05

Carnalmente

Beijo-te. Sorvo-te.
Beijo-te e não te deixo respirar.
Sorvo-te e sinto-te fraquejar.

E provo-te e saboreio-te e sinto-te e consumo-te e trinco-te e arranho-te e mordo-te e rasgo-te e rompo-te.
E sorvo-te e beijo-te e não te deixo respirar e sinto-te fraquejar e abraço-te e não te largo.

E amo-te. Carnalmente.

12.7.05

Porquê?

Por que será?

Porquê?
Porquê?

Não sei.

Não sei por que

Tranco o coração
Com o trinco da razão.

27.6.05

Olha para ti

Olha para ti. Não tens vergonha? Devias ter vergonha. Olha para ti a rastejar. A comer o pó do chão. A comer o pó do chão e a ser pisado por tudo. A comer o pó do chão, a ser pisado por tudo e a levar pontapés de todos. A comer o pó do chão, a ser pisado por tudo, a levar pontapés de todos e a ser calcado e espezinhado, sem nada dizer.

A aceitar ser desprezado.

Levanta-te. Ergue-te do chão. Enfrenta o mundo. Devias ter vergonha. Não tens vergonha? Isso. Esconde a cara. Tapa os olhos. Sim, chora. Grita por ajuda. Não. Não te ajudo. Não te dou a mão. Tu não mereces.

Tenho pena de ti. Porque tu não és homem. Tu não és nada.

23.6.05

Como eu queria ser feliz

Como eu queria ser feliz
Assim como quando era pequeno
E na terra dos meus avós
(Naquela serra do norte)
Uma aranha se passeava
Por sobre as uvas vindimadas.
E eu, criança inocente,
Descalço aquelas uvas pisava.

16.6.05

12.6.05

Nem tudo passa

Penso em mim e invade-me uma imensa tristeza.

Penso em mim e tropeço no meu andar, no meu não saber estar, no meu querer ser e no meu constante desistir. Tropeço em mim e neste engano de querer encontrar o que não consigo. Já não tenho forças. Desisto e caio de joelhos no chão. Desisto porque não quero continuar a lutar. Sou um cobarde. Sou um vencido que prefere desistir a resistir. E no meio da minha tristeza, não param de me gritar aos ouvidos que estou louco. Sim. É verdade. Estou louco. Estou louco. Estou louco. É verdade. Estou louco e a minha loucura é esta solidão que me agarra, esta solidão que me devora. Esta solidão que me entra e revolve e que me consome as entranhas e que não sai e que não vai embora. Esta solidão que me mata. Esta solidão que me lembra que estou vivo e que me mói e que me remói e que em mim habita e que de mim não desiste.

Não. Não vai passar. Eu bem sei.
Nem tudo passa.

8.6.05

6.6.05

O quê é meio porquê

Porquê o quê do quê e do porquê?
Não há quê nem meio-porquê.
O quê não é o porquê e o porquê não é meio.
Porquê e quê só por inteiro.
Mas porquê?
Porquê o quê?

2.6.05

A Verdade

Não acreditem em mim se eu disser que digo a verdade. Porque quando digo a verdade, não estou a dizer senão a mentira. E por isso se alguma vez me ouvirem dizer que eu digo a verdade, é porque é mentira, porque não é verdade. Não quero a verdade porque a verdade não é bonita. A verdade não me ajuda em nada. A verdade não é verdade se eu quiser que não seja verdade. A verdade não é nada mais que mentira. Por isso quero a mentira porque a mentira é bonita. E quando eu digo que digo a verdade, estou é a dizer a mentira.
E tudo isto é verdade.

27.5.05

Não sei o que quero

Não sei o que quero.
Quero e não quero.
Queria saber o que quero, mas não sei o que quero.
Queria dizer tudo o que quero, mas não não sei o que quero dizer.
Quero, mas não quero.
Queria querer tudo o que quero, embora não saiba o que quero querer.
Queria não ter que me preocupar com o que quero e o que não quero.
Mas não sei o que quero.
Queria não ter que esquecer o que quero.
Mas o que quero eu?
Não sei o que quero.
Quero tudo e não quero nada.
Queria não querer o que quero querer.
Querer o que quero e não saber o que quero.
Queria o que quero.
Queria o que não quero.
Quero aquilo que não sei querer.
Quero o que há muito quero.
Mas não sei o que quero.
Não sei o que quero.

20.5.05

Ao Mestre

Como eu gostava de ser um hortelão
Que com zelo cuida da sua horta.
Eu só tinha que apanhar os frutos
Das árvores que nascessem nessa horta.

Como eu gostava de ser um pobre de espírito
Que neste mundo abre os olhos quando o sol nasce
E os fecha quando o sol se põe.
Eu não tinha que ter ilusões.
Só tinha que ter uma horta.
E nessa horta umas árvores.
E dessas árvores, o seu fruto.

Quem me dera nesta vida ser um hortelão
Que pela sua horta caminha feliz
Porque não necessita de usar a razão.

15.5.05

A Perfeição

Pergunto-me a mim próprio o que é a perfeição.
Respondo a mim próprio o que é a perfeição...

A perfeição não é a rigidez.
A perfeição não é o deus que nos querem vender.
A perfeição não é a perfeição.
Porque a perfeição não é nada.

A perfeição não é a beleza, porque a beleza não é a perfeição.
A perfeição não é o que querem que eu acredite que é.
Porque a perfeição simplesmente não existe.

E, porém, a perfeição existe em cada um de nós.
Porque a perfeição é cada um de nós.
Quem me pode dizer que cada um de nós não é a perfeição?

Eu não sei o que é a perfeição. E não quero descobrir o que é.
Não conheço a perfeição e não quero conhecer.
Porque a perfeição não tem sentido para mim.
Porque a perfeição não é nada.

Mas a verdade, é que sei o que é a perfeição.
E ninguém me pode dizer o que é a perfeição e o que não é a perfeição.

E por isto pergunto a quem quiser responder.
O que é a perfeição?

11.5.05

Quero amar-te

Não. Não me fales de ti. Não quero saber. Não me contes. Quero sentir-te aqui, ao pé de mim. Quero amar-te. Por isso, não me fales de ti. Não te quero conhecer. Não quero que sejas simpática para mim. Não quero conhecer o teu verdadeiro eu. Conhecer-te é não amar-te. E eu quero amar-te.
Deixa-me olhar bem fundo nos teus olhos. Deixa-me perder-me em ti. Deixa-me encontrar-me. Agora, não me mostres quem tu és. Eu não te mostro quem eu sou. E assim podemos amar-nos. Amar é não conhecer. E eu não te quero conhecer.

7.5.05

Falha a caneta

Penso o que escrevo
E a caneta falha

Escrevo o que penso
E a caneta falha

Escrevo o que escrevo
E a caneta falha


Falha a caneta
Falho eu

4.5.05

à Luz

E pudesse eu ver-te só mais uma vez. Olhar-te nos olhos. Abraçar-te. Dar-te beijos...

E dizer-te que estarás sempre aqui e para sempre aqui.

30.4.05

Sinto-me impelido a saltar

Sinto-me impelido a saltar. O que é que me prende? Não sei. Ou se calhar até sei. Mas prefiro acreditar que não sei. Porque senão, sentir-me-ia impelido a saltar. Mas então, porque não salto? Não sei. Ou se calhar até sei. Mas prefiro não saber. Sinto-me impelido a saltar. O que é que me prende? Não sei. Ou se calhar até sei. Mas prefiro acreditar que não sei. Porque senão, sentir-me-ia impelido a saltar. Mas então, porque não salto? Não sei. Ou se calhar até sei. Mas prefiro não saber. Sinto-me impelido a saltar. O que é que me prende? Não sei. Ou se calhar até sei. Mas prefiro acreditar que não sei. Porque senão, sentir-me-ia impelido a saltar. Mas então, porque não salto? Não sei. Ou se calhar até sei. Mas prefiro não saber. Sinto-me impelido a saltar. O que é que me prende? Não sei. Ou se calhar até sei. Mas prefiro acreditar que não sei. Porque senão, sentir-me-ia impelido a saltar. Mas então, porque não salto? Não sei. Ou se calhar até sei. Mas prefiro não saber. Sinto-me impelido a saltar. O que é que me prende? Não sei. Ou se calhar até sei. Mas prefiro acreditar que não sei. Porque senão, sentir-me-ia impelido a saltar. Mas então, porque não salto? Não sei. Ou se calhar até sei. Mas prefiro não saber.

27.4.05

Quem eu sou, não sei.

Perguntam-me quem eu sou e não sei responder.

Não sei quem sou, porque nunca mo disseram.
E não sei quem sou, porque nunca fui capaz de o descobrir.
Só sei que sou aquilo que não sou.
E sei que sou aquilo que não quero ser.

Mas de resto, não sei.

Apenas sei que sou este que à beira do caminho espera, porque não sabe por onde deve seguir.
E, por isso, sei que sou este que à beira do caminho desespera, porque não tem por onde seguir.

Mas não sei.

Apenas sei que sou o peregrino desencantado,
Que segue pela estrada cantando a trova da desilusão
E que caminha sem rumo pela poeirenta estrada da razão.

E, no entanto, não sei.

Apenas sei que sou aquele que caminha pela estrada sem ter nada a perder.
Podem assaltar-me, esfaquear-me, matar-me que eu não me importo.
Assaltado, esfaqueado e morto já eu caminho por este caminho que a lado nenhum me leva.

Porém, não sei.

Por isso, não me perguntem quem sou.
Porque quem eu sou, não sei.