29.4.06

a Simplicidade

Estava eu sentado à espera de nada numa das ruas da cidade movimentada num dia de Primavera, quando alguém se dirigiu a mim querendo, com a voz cansada pelo tabaco, vender-me uma Cais acabada de sair da tipografia.
- Peço desculpa. Não tenho dinheiro. Ainda sou estudante e não tenho mesada nem outra fonte de rendimento.
- Ah, o problema das massas, não é? Olhe, eu é que agora não tenho dinheiro aqui comigo, senão teria todo o gosto em ajudá-lo.

Agora que penso nisto, julgo que aquela voz cansada e simples me ajudou mais do que aquilo que pensa.

21.4.06

Eurydice

Por ti
cortava a mão direita
arrancava os dois olhos
era capaz de matar
era capaz de morrer

Escolhe

15.4.06

a conclusão

Eu ando à procura. Não perco um único momento sequer. Mas agora que olho para trás, consigo compreender que foi tudo uma perda de tempo. Por que é que não me fechaste logo com a porta na cara? Por que razão demoraste tanto tempo a mostrar aquilo que és? Por que me enganaste durante este tempo todo com aquilo que eu pensei seres? Não tenho pena que tenha acabado. Tenho é pena que tenha acabado assim. Agora compreendo que foi uma perda de tempo e isso deixa-me furioso. Pensava poder contar contigo. Mas parece que me enganei. Se queres saber, nem me importo. O que já foi, já foi. Só fico furioso é porque chego à conclusão de que foi tudo uma perda de tempo.

8.4.06

Não sei para onde vou

Sinto que não pertenço a lugar nenhum. Estou perdido.

Não é fácil caminhar quando não sabemos para onde nos dirigimos.

4.4.06

É importante não a deixar escapar

O que fazer com ela? (É importante não a deixar escapar)
Escreve-a num pedaço de papel. (Não a deixes escapar)
Sem ensaios prévios. Sem rascunhos. Sem vergonhas. (Não a deixes escapar tal qual nasceu)
Enfia-a dentro de um sobrescrito. (É importante não a deixar escapar)
Envia-a. (Não vá ela, entretanto, escapar)
Aguarda que chegue ao destino. (É importante não a deixar escapar)

a Ideia.