27.6.05

Olha para ti

Olha para ti. Não tens vergonha? Devias ter vergonha. Olha para ti a rastejar. A comer o pó do chão. A comer o pó do chão e a ser pisado por tudo. A comer o pó do chão, a ser pisado por tudo e a levar pontapés de todos. A comer o pó do chão, a ser pisado por tudo, a levar pontapés de todos e a ser calcado e espezinhado, sem nada dizer.

A aceitar ser desprezado.

Levanta-te. Ergue-te do chão. Enfrenta o mundo. Devias ter vergonha. Não tens vergonha? Isso. Esconde a cara. Tapa os olhos. Sim, chora. Grita por ajuda. Não. Não te ajudo. Não te dou a mão. Tu não mereces.

Tenho pena de ti. Porque tu não és homem. Tu não és nada.

23.6.05

Como eu queria ser feliz

Como eu queria ser feliz
Assim como quando era pequeno
E na terra dos meus avós
(Naquela serra do norte)
Uma aranha se passeava
Por sobre as uvas vindimadas.
E eu, criança inocente,
Descalço aquelas uvas pisava.

16.6.05

12.6.05

Nem tudo passa

Penso em mim e invade-me uma imensa tristeza.

Penso em mim e tropeço no meu andar, no meu não saber estar, no meu querer ser e no meu constante desistir. Tropeço em mim e neste engano de querer encontrar o que não consigo. Já não tenho forças. Desisto e caio de joelhos no chão. Desisto porque não quero continuar a lutar. Sou um cobarde. Sou um vencido que prefere desistir a resistir. E no meio da minha tristeza, não param de me gritar aos ouvidos que estou louco. Sim. É verdade. Estou louco. Estou louco. Estou louco. É verdade. Estou louco e a minha loucura é esta solidão que me agarra, esta solidão que me devora. Esta solidão que me entra e revolve e que me consome as entranhas e que não sai e que não vai embora. Esta solidão que me mata. Esta solidão que me lembra que estou vivo e que me mói e que me remói e que em mim habita e que de mim não desiste.

Não. Não vai passar. Eu bem sei.
Nem tudo passa.

8.6.05

6.6.05

O quê é meio porquê

Porquê o quê do quê e do porquê?
Não há quê nem meio-porquê.
O quê não é o porquê e o porquê não é meio.
Porquê e quê só por inteiro.
Mas porquê?
Porquê o quê?

2.6.05

A Verdade

Não acreditem em mim se eu disser que digo a verdade. Porque quando digo a verdade, não estou a dizer senão a mentira. E por isso se alguma vez me ouvirem dizer que eu digo a verdade, é porque é mentira, porque não é verdade. Não quero a verdade porque a verdade não é bonita. A verdade não me ajuda em nada. A verdade não é verdade se eu quiser que não seja verdade. A verdade não é nada mais que mentira. Por isso quero a mentira porque a mentira é bonita. E quando eu digo que digo a verdade, estou é a dizer a mentira.
E tudo isto é verdade.